Diga qual deles usa e direi quem tu és.



Se tem um programa que para mim não é de índio como muitos acham, é fazer super mercado, sacolão, coisas do tipo. Eu converso com pessoas que eu nunca vi , troco receitas,  e observo as pessoas com seus carrinhos. Tem o carrinho do cara que faz compra sozinho (só tem comida congelada, garrafa de água e latas de cerveja), dos casais com bebê  pequeno no colo (são enormes esses carrinhos, parece que essa turma só vai ao mercado a cada ano) e por aí vai...
Mas, nessa minha última compra o que me chamou atenção não foram os carrinhos das pessoas e sim um diálogo entre a mãe, uma senhora simples que aparentava uns setenta anos, baixa, corpo forte e de jeito bem espirituoso e da filha, beirando seus trinta anos:

- Óia , o papel higiênico tá barato demais!!
- Arremaria mãe, esse aqui tá barato porquê é o "mermo"que jornal!!
- Pois vai é esse, limpa do mesmo jeito e quem é que vai saber que a gente usa papel igual jornal? Só tu e eu, mas, tu fica calada e eu também.

Achei muito engraçada a conversa, mau sabiam elas que além das duas eu também sabia que tipo de papel elas estavam comprando e iriam usar (rss) !!  Mas, me lembrei também da estória de  uma amiga que enfrentava sérios problemas financeiros, estavam sem emprego e faltava de tudo dentro de casa. Numa das vezes que visitei a casa deles, eu usei o banheiro e percebi que o papel higiênico era aquele de folha "tripla" de tão requintado que era , fiquei pensando como que numa casa que faltava a alimentação tinha um papel tão caro como aquele no banheiro. Dias depois, numa de nossas conversas ela desabafou, que tinha o perdido o padrão de tudo, mas, não abriria mão da qualidade do papel higiênico:
- O quê as pessoas que vão a minha casa vão pensar ao ver um papel ralé??

Comparando essas duas estórias, chego ao mesmo questionamento, por que nos preocupamos tanto com o que os outros vão pensar ao nosso respeito e com as  nossas escolhas ? Por que chegamos ao ponto de muitas vezes, esconder o tipo de papel higiênico que usamos para manter uma aparência com algo que não corresponde a realidade ou até mesmo corresponde!!?
Somos vítimas do julgamento e análise constante das pessoas ou prisioneiros da nossa própria vaidade? Questionamos e critícamos tanto a decadência da humanidade, com a sua falta de valores e nos  prendemos a coisas tão pequenas como o tipo de papel que usamos num lugar que geralmente é de extrema intimidade solitária.
De quem temos fugindo?
Para quem temos mentido?
Torço para sermos quem quisermos ser, mas, sem máscaras e recalques e que mesmo assim, nosso vizinho de carrinho no corredor do mercado, não critique, apenas se divirta. E se por acaso, formos "pegos" em nossos refúgios mais secretos, o dedo não seja apontado, mas, que a mão estendida seja sempre a primeira a se pronunciar.

Comentários

  1. Com toda a sinceridade do mundo e Deus o sabe, eu sempre questionava com minha mãe a compra de um papel higiênico ruim pelo conforto mesmo do uso numa área tão delicada. Mesmo nos momentos em que o bolso apertava, não podendo comprar um muito bom, eu tentava escolher um meio termo. Mas voltando para a análise psicológica das nossas ações, eu diria que não se está preso só à vaidade ou só ao medo do julgamento das pessoas. Eu diria que é uma mistura dos dois. Concordo contigo, quando você diz que o ato de observar não deve ser para crítica somente, mas para divertimento, auto análise e até um pouco de compassividade porque não temos como saber em que universo, em que contexto as pessoas que nós observamos estão inseridas. Beijos lindona.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas