sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Seja prática e aceite!


Um jantar romântico num  restaurante aconchegante, luz de velas, músicas que conduzem a um clima de declaração de amor, enfim, um cenário perfeito para um casal ter uma inesquecível  noite, é o que muitas mulheres ainda sonham. Escuto sempre  as mesmas coisas, nos aconselhamentos e nas palestras  que realizo com mulheres.
A grande maioria se queixa da frieza com que seus parceiros tratam o relacionamento no dia a dia e de como  faz falta o romantismo dos tempos de namoro. As que ainda não encontraram seu par, denunciam que os homens sumiram do mapa e os que "a meia dúzia" que ainda tem, são do tipo que não vale a pena investir.Como seria bom homens que valorizassem a mulher e soubessem tratá-la como elas sonham, idealizam e merecem! O discurso é praticamente universal.
Mas, ontem em meio a um cenário desse, quando estava comemorando meus dezesseis anos de casada, o casal (ele nitidamente  um pouco mais velho que ela e ela grávida de poucos meses), que estava sentado bem próximo a nós, já estavam indo embora quando ele falou algo para ela , que rapidamente se levantou e respondeu:
 -"Sou uma mulher prática, não tenho paciência  para esperar um homem  puxar a cadeira para mim! ".
Saíram rindo (ele meio sem graça) e eu fiquei chocada com a velha frase na cabeça: mulheres, afinal, quem entende as mulheres?
 Eu que sou uma delas, não entendi absolutamente nada. Um companheiro gentil que nos tempos de hoje ainda se dispõe a puxar a cadeira para sua companheira é artigo de luxo! Depois de um "fora" desse, creio que qualquer tentativa de cuidado ou romantismo desse homem não sera manifestada, geralmente nós mulheres somos sensíveis e grávidas então... Ficamos com a sensibilidade a flor da pele, mas, nem assim a mulher se derreteu pelo galanteio .
Venho falando que temos errado a mão. Nossas avós foram duramente tolhidas por seus homens  e praticamente escravizadas dentro dos lares, mas, tinham uma bagagem emocional suficiente para fazer uma doce limonada com esses limões que a vida as reservou, fazendo com que a família não se desestruturasse e nem ela deixasse de encontrar felicidade, do jeito dela. A queimada do sutiã que foi um protesto histórico contra tanta opressão feminina, parece que queimou algo mais além deles, somos uma geração chamuscada por uma falta de equilíbrio naquilo que podemos, devemos e não devemos fazer, não pelos outros, mas, para benefício nosso mesmo.
Defendo a bandeira que tem no hino a doçura, aconchego, fragilidade inteligente, dependência independente e o fazer acontecer sem precisar deixar de ser mulher. Me desculpe Sheryl Sandberg*, não dá para ser tudo ao mesmo tempo, infelizmente tenho que concordar que Nelson Rodrigues estava coberto de razão a muitos anos atrás :
"As feministas querem reduzir a mulher a um macho mal-acabado".
Quando foi minha vez de levantar e ir embora, sai  segurando o buquê de rosas vermelhas que tinha ganho de surpresa lá mesmo, a mesa de jovens casais que estava logo na entrada do restaurante  (e portanto não viu o momento da entrega) ficou  com os olhares congelados em nós até entrarmos no carro, uma das moças cutucou o namorado e voltou a olhar para mim, ele a abraçou carinhosamente.  Entendi que ela tinha gostado da cena e que deveria estar pedindo algo parecido, sinceramente, deu vontade de voltar lá e dizer a ela:
- Se ele  quiser puxar sua cadeira para você se levantar, seja prática  e aproveita! Você acha que eu ganhei essas flores por quê?

*Chefe de operações do Facebook. Escritora do livro "Faça acontecer (Mulheres , trabalho e a vontade de liderar).


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