quinta-feira, 13 de julho de 2017

Quando a gente escuta, se entende.Sempre foi assim.


Escutar exige atenção, sentir, perceber o outro.
Ouvir exige concentração e disposição para o outro.
Num mundo onde tudo esta cada vez mais descartável, onde as pessoas tem pressa  e não tem tempo para quase nada que não seja sua vida, os seus afazeres o ouvir se torna impraticável.
São tantos sons a nossa volta o tempo todo, agora mesmo enquanto escrevo a porta da varanda faz um barulho estridente por causa do vento que a saculeja com força, tem um caminhão passando aqui na rua e um cachorro latindo e me parece ser latido de solidão, vai latir muito pelo jeito... Quem ele quer que escute deve ter saído para seus afazeres e quando voltar tarde da noite, encontrará o amigo de quatro patas exausto de tanto latir, nem vai mais fazer sentido.
O telefone celular toca a cada mensagem que chega, desconcentrando as inúmeras tentativas de diálogo que ao fim de cada toque se reiniciam, gerando um cansaço e como tá todo mundo tão cansado de tanta correria é melhor não arrumar outra coisa para se cansar ainda mais, deixa então essa conversa para depois do trabalho, da conversa séria com outra pessoa, do trabalho que já estourou o prazo de ser entregue, do filme que tá te relaxando...
No meio desse turbilhão de sons, mesmo com tanta gente envolta, cada vez mais a gente se sente sozinho e temos perdido o costume de dialogar, de rir com uma piada sem sentido que o outro acabou de contar, de olhar com o olhar de misericórdia , de se colocar no lugar, de estender a mão, de pedir um abraço… Não ser ouvido dói, não escutar enfraquece o relacionamento ou perde-se a chance de inicar um.
Eu acredito que os retiros espirituais acontecem porque nos momentos de isolamento profundo percebemos a preciosidade que existe no silêncio, descobrir que quando calamos as coisas vão para o seu devido lugar ,o que é menor some e  o que realmente tem importância fica audível.
Nesse momento tenho uma amiga passando por um exame minucioso no cérebro, o marido dela está ao lado dela… Fico imaginando o que o silêncio de um momento como esse fala… Devem existir tantas perguntas que não são feitas, mas que existem, um presente que não dá a convicção de um futuro e talvez essa dúvida de que o futuro existirá trás a tona tudo que é mais importante do que os ruídos que nos ensurdecem.
O olhar nos olhos, o calor das mãos dadas, o aconhego no peito no dia de maior medo, o enxugar das lágrimas caídas, uma canção de amor, uma piada boba que corta o silêncio com gargalhadas que parecem não ter fim.
Sabe, costumamos dar flores aos que são de longe, palavras suaves a quem mau conhecemos…. Tem uma poesia que fala que flores se dão em vida, eu acredito tanto nisso! 

Costumamos fechar as janelas para que ninguém escute  a nossa dor, para que os outros não façam uma idéia errada de nós, ao invés de estarmos mais preocupados em por para fora aquilo que machuca na certeza que o Ele recolhe cada lágrima nossa porque são preciosas demais para Ele e que no final, teremos o amor aconchegante de quem convive conosco.

Deixar que nos coloquem em último lugar nunca foi uma boa idéia, se colocar em último lugar menos ainda, o estrago é muito maior e só damos conta quando ele acontece..
O deserto me fez ouvir os sons que valem a pena e aprender identificar a quantidade de ruído existente a minha volta e que não me dizia nada, simplesmente me atrapalhavam. Mas , ninguém pode viver para sempre no deserto. Ninguém pode viver construindo muros para se proteger, percebo isso no Criador, ele não criou muros, mas criou limites e fez isso com os lagos, rios, terras, línguas…

Que assim eu possa seguir, ouvindo os sons e melodias que me fazem ir alem, que me fazem caminhar de forma a continuar reconhecendo o que é música boa para dançar, pensar, ler e amar do que ficar perdendo tempo naquilo que a voz do deserto já me ensinou que se chama distração.

Quando quiser me escutar, solte o celular, não mexa nos papéis que estão a sua frente, olhe nos meus olhos e me escute com o coração, as chances de entender quem eu sou e me amar como sou se multiplicarão.

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